2012 e a Ascensao Planetaria
sábado, 13 de junho de 2009
Carpe Diem
Aí um dia você toma um avião para
Paris, a lazer ou a trabalho, em um
vôo da Air France, em que a comida
e a bebida têm a obrigação de oferecer
a melhor experiência gastronômica
de bordo do mundo, e o avião mergulha
para a morte no meio do Oceano
Atlântico. Sem que você perceba, ou
possa fazer qualquer coisa a respeito,
sua vida acabou. Numa bola de fogo
ou nos 4 000 metros de água congelante
abaixo de você naquele mar sem fim.
Você que tinha acabado de conseguir
dormir na poltrona ou de colocar os
fones de ouvido para assistir ao
primeiro filme da noite ou de saborear
uma segunda taça de vinho tinto com
o cobertorzinho do avião sobre os joelhos.
Talvez você tenha tido tempo de ter a
consciência do fim, de que tudo
terminava ali. Talvez você nem tenha
tido a chance de se dar conta disso. Fim.
Tudo que ia pela sua cabeça desaparece
do mundo sem deixar vestígios. Como se
jamais tivesse existido. Seus planos de
trocar de emprego ou de expandir os
negócios. Seu amor imenso pelos filhos
e sua tremenda incapacidade de expressar
esse amor. Seu medo da velhice, suas
preocupações em relação à aposentadoria.
Sua insegurança em relação ao seu real
talento, às chances de sobrevivência de
suas competências nesse mundo que troca
de regras a cada seis meses. Seu receio
de que sua mulher, de cuja afeição você
depende mais do que imagina, um dia lhe
deixe.
Ou pior: que permaneça com você infeliz,
tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de
trocar de casa, sua torcida para que seu
time faça uma boa temporada, o tesão
que você sente pela ascensorista com ar
triste. Suas noites de insônia, essa sinusite
que você está desenvolvendo, suas saudades
do cigarro. Os planos de voltar à academia,
a grande contabilidade (nem sempre com
saldo positivo) dos amores e dos ódios que
você angariou e destilou pela vida, as
dezenas de pequenos problemas cotidianos
que você tinha anotado na agenda para
resolver assim que tivesse tempo.
Bastou um segundo para que tudo isso fosse
desligado. Para que todo esse universo
pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas
tenha se apagado. Como uma lâmpada que
acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele
todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe
nada para depois. Diga o que tem para dizer.
Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde
lixo dentro de casa. Não cultive amarguras
e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada
de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias
nem contentamentos nem sabores bons.
Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão.
Ontem é uma lembrança. No fundo, só
existe o hoje.
(Art. Revista Exame)
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