2012 e a Ascensao Planetaria

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Aprender do vôo das águias


Há uma tradição transcultural que apresenta
o comportamento de certos animais ou aves
como exemplar para os comportamentos humanos.
Nisso vai intuição antiga que a ciência dos
comportamentos comprovou: existem em nós traços
herdados de animais ou aves, pois, embora
diferentes, formamos com eles uma única comunidade
de vida.

Observemos como as águias voam. Elas voam de
forma toda própria. Usam a própria força apenas
para iniciar o vôo. Batem as asas e forcejam para
ganhar certa altura. Uma vez alcançada, aproveitam
a força dos ventos e se deixam carregar por eles.
Possuem um instinto muito apurado para captar
correntes de ar e sabem tirar proveito delas.
Se há apenas brisa leve, elas flutuam suavemente.
Se irrompem ventos fortes, elas usam da força
deles para voar bem alto e deslocar-se com grande
velocidade. Apenas manejando à esquerda e à
direita suas enormes asas que podem chegar a
mais de dois metros de diâmetro.

Bem diferentes são as galinhas. Quando estão
excitadas ou se põem a correr, batem muito as asas,
fazem grande barulho mas voam apenas alguns metros.
Apliquemos a sabedoria das águias aos nossos
comportamentos. Nós não sabemos entrar em sintonia
com a natureza. De saida, rompemos com ela em nosso
afã de dominá-la com violência e colocá-la a nosso
serviço. Não nos harmonizamos com seus ritmos.
Ao contrário, ela tem que obedecer aos ritmos que
lhe impomos. Este paradigma está na base de nossa
civilização hoje globalizada. Trouxe-nos incontáveis
benefícios, mas nos exilou da Terra e nos fez
inimigos da natureza. Este projeto de dominação,
entretanto, sem limites internos, pode tornar-se
altamente perigoso. Ele tem depredado a infra-
estrutura da vida a ponto de pôr em risco o futuro
da biosfera e da espécie humana.

Por isso, mais e mais pessoas hoje procuram uma nova
aliança com a natureza. Assim nasceu a agroecologia
que implica produzir interagindo respeitosamente com
ela. É ilusório um crescimento econômico à la agronegócio
que mata e desmata. Importa conhecer os ritmos da
floresta amazônica e utilizar tecnologias adequadas
a esses ritmos. Só assim se preserva a natureza e se
colabora com ela para que continue a nos dar seus bons
frutos. Dito de outro modo: importa moderar a lógica de
nossa vontade e fazê-la combinar-se com a lógica objetiva
da natureza, a exemplo da águia em seu vôo.

Nosso comportamento é construtivo quando nasce do
equilíbrio entre o nosso desejo e o desejo inscrito na
natureza. Sábia é a pessoa que capta as duas lógicas,
a das coisas e a do eu, se harmoniza com elas e as faz
convergir. Imatura é a pessoa e atabalhoado é seu
comportamento quando só escuta o próprio eu e a toda
hora diz: "eu sei, eu quero, eu decido, eu faço" não
escutando a voz da natureza como se ela nem existisse.
A tradição do Tao ensina que a pessoa só se sente plena
e realizada quando sua obra imita o vôo das águias:
trabalha junto com a natureza e jamais contra ela.
Caso contrário, sempre há uma réstea de vazio e um
sabor amargo de implenitude.

Precisamos desinflar o eu e enraizá-lo na natureza.
O eu e a natureza formam um todo dinâmico sempre em
busca de um difícil equilíbrio. Ambos, cada qual com sua
singularidade, devem permanentemente atuar juntos como
garantia de uma vida equilibrada e discretamente feliz.

Leonardo Boff
Fonte: http://www.leonardoboff.com

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